terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A SAGA DE UM CORAÇÃO



O que é um infarto? Não sabia até suar frio e passar muito mal numa manhã fria de outubro. Tudo isto desencadearia uma série de eventos e procedimentos médicos, emergências, ambulâncias, informações, diagnósticos, cirurgias e stents.
Você não sabe o que está acontecendo, não entende, não reconhece os sintomas, até que deitado em uma cama descobre que sofreu um infarto. Primeiros sintomas, nesta manhã: calor, sudorese, desmaio e vomito. Caminhei até a sala, fui ajudado a sentar e tirar o casaco e desmaiei. Andando pela loja, entre as pessoas estava um cliente, um médico que fez os primeiros procedimentos: deitou-me no chão, levantou as minhas pernas, abriu minha camisa. Quem começou a me salvar, porque a maioria das pessoas não sabe os sintomas de um infarto, nem eu sabia.
Visitas aos médicos, não tinha tempo, pois “quem procura acha” dizia um amigo meu.
A minha funcionária lembrou que eu possuía um plano de atendimento de ambulância UTI e contatou os serviços, sentado na cadeira do meu escritório suava frio.
Até que chegou o serviço médico e foi verificada a minha pressão e recebi a recomendação de ir para a casa descansar, diagnóstico: estresse. Neste momento desmaiei novamente, resolveram me levar para um hospital (além deste serviço tenho felizmente um plano de saúde). Após um procedimento burocrático fui encaminhado para um hospital no centro de Curitiba, continuei vomitando na ambulância, até este momento ninguém diagnosticou o infarto.
Dentro da ambulância uma nuvem negra passa a fazer parte dos pensamentos: quando voltarei e será que voltarei, quem vai me atender, a dor é muito forte, acho que pode ser muito grave, as informações em minha volta, barulho da sirene, a velocidade da ambulância, o campo visual reduzido. Afivelado na maca, com uma máscara recebendo oxigênio, ainda via o rosto empalidecer do meu escudeiro mais fiel, minha esposa que me acompanhava em mais uma empreitada em que a vida nós impunha, é um turbilhão de pensamentos, uma vida inteira revivida em segundos, sem saber se vão ser novamente reescritos, entre um desmaio e outro.
Chegando ao hospital fui colocado em uma maca numa sala de emergência, a qual não tinha nenhum tipo de equipamento, percebi que havia outras pessoas deitadas nestas macas. O médico de plantão não permitiu que minha acompanhante ficasse nesta sala, disse que deveria ficar na recepção que estava cheia de pessoas esperando por atendimento, nem conversou com minha esposa.
Neste momento a dor ficava mais forte no braço esquerdo, irradiando pelas costas e peito, descrevi a dor ao médico e fui enfático, me aplicou uma injeção para a dor, não fez nenhuma outra pergunta, só falou que tinha que esperar a dor acalmar, mesmo reclamando das fortes dores e do que estava sentindo, não me deu atenção, vomitei mais uma vez. Hoje, para mim todos estes sintomas são evidentes de um infarto.
Tudo isto foi relatado ao plano de saúde, porque o problema foi muito mais grave. Como continuava com muita dor e nenhum outro procedimento acontecia, levantei da tal maca com dificuldade em direção a saída desta sala, avisei que iria embora procurar assistência e que era para chamar minha acompanhante, neste momento o médico resolveu me encaminhar para UTI.
Após a internação na UTI, fizeram um eletro e exame de sangue que apresentaram alterações. Somente neste momento foi diagnosticado o infarto. Tudo teve seu início às 9h e o diagnóstico confirmado somente entre 11h e 12h.
Temos que ter muito cuidado com as informações repassadas às pessoas que fazem o atendimento, para que não se induza a um diagnóstico errado. Como tomava alguns remédios naturais para perder peso, e isto foi informado pelas minhas funcionárias ao socorrista do serviço de UTI móvel, e esta informação foi passada ao médico do hospital, este se fixou a esta informação e não investigou mais nada. O erro das informações passadas a um médico displicente pode levar a morte. O médico da UTI móvel teve algumas falhas no diagnóstico por informação equivocada e/ou por falta simplesmente de experiência médica, e fez o encaminhamento a um hospital que não tinha condições de fazer o atendimento (hoje faz propaganda que faz atendimento cardiológico, mas naquele momento tenho certeza de que não tinha). E nas proximidades do meu endereço tem outro hospital que é referência em cardiologia no BRASIL.
Como vaso ruim não quebra...
Todos os relatos sobre infarto dizem que o atendimento imediato pode salvar, porque mais de 50% das pessoas não chegam ao hospital vivas. Infelizmente tenho que relatar que não fui atendido como enfartado pelo médico da UTI móvel e nem pelo médico da emergência do hospital. Somente o médico que era cliente da loja e fez os primeiros socorros, após um desmaio me disse que faria uma massagem cardíaca (talvez prevendo um infarto), quando a ambulância (UTI móvel) chegou, ele saiu da sala, entendendo que tinha um profissional e equipamentos que poderiam fazer o diagnóstico.
Neste mesmo dia, no início da tarde, apareceu um médico na UTI e informou que eu havia sofrido um infarto e que iria fazer um cateterismo. Fui levado para o exame no meio da tarde, já sem dor, fui de cadeira de rodas. Os sintomas do procedimento são muito ruins e foram agravados por um equipamento, acredito ser muito velho, não bastando isto, neste momento o médico informou que o comprometimento coronário era bastante grave em 4 das artérias, sendo que 2 com mais de 90% e que somente com cirurgia poderia ser resolvido o problema. Neste momento além dos sintomas do exame tive informações as quais não estava preparado para receber, fiquei muito mal, senti um calorão, sudorese e tremedeira. Houve uma grande correria para estabilizar os meus sintomas, pois até então a informação que tinha recebido do médico cardiologista chefe da UTI, era a de que faria o exame e iria para casa. Depois que me estabilizaram, retornei para a UTI, quando me colocaram na cama vomitei devido ao contraste ou ao mal estar da informação. O médico que fez o exame foi até a UTI pedir desculpas pela maneira que informou a gravidade do meu problema. Na sala que fiz o cateterismo tinha uma menina que estava estudando, fazendo tarefas, podem acreditar. O cardiologista chefe da UTI somente retornou às 22:30h deste dia, informou a gravidade do meu estado e que seria necessária uma cirurgia, e que no dia seguinte o cirurgião passaria para conversar e combinar todos os detalhes. A minha esposa e família aguardaram até este horário sem nenhuma notícia precisa de minha situação.
Péssimas memórias deste hospital, que até a maca ou cama a qual me deixaram dormir era menor do que eu (fiquei com os pés para fora).
Era uma UTI geral, com gente gemendo a noite toda, o serviço de enfermagem e a limpeza não existiram, dormi acompanhado pelo vomito após o exame de cateterismo e ninguém veio limpar ou trocar as roupas de cama, simplesmente colocaram um lençol dobrado para tapar a sujeira. Independente de ter um plano de saúde, a situação grave merecia mais atenção e asseio, o atendimento deste hospital foi totalmente displicente.
A primeira noite em um hospital e na UTI, lugares para mim nunca imagináveis, uma situação que sequer um dia tinha passado pelos meus pensamentos, numa noite apavorante que você conversa com o inesperado e se debate com o vazio que virou sua vida.


2 comentários:

  1. Além de ser um relato vivo de tua saga cardiovascular, contém informações úteis para todos nós que não queremos passar por isso algum dia.

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  2. Fico pensando, como dizia um amigo meu: "quem procura acha". Ainda bem que procurei e achei, antes de infartar e, talvez, passar pela mesma situação "canalha" que você relatou. O diagnóstico precoce e a prevenção formam o melhor caminho para escapar de um "despreparo urgentíssimo".

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